"O cigarro não presta" afirma Ernesto Likaunga que refere que a determinação e força de vontade tiraram-lhe da ilusão que tinha sobre o tabaco.
Ernesto Miguel Likaunga é natural do distrito de Mueda, província de Cabo Delgado, norte de Moçambique. Nasceu a 20 de Outubro de 1946 e actualmente é funcionário da Rádio Moçambique e desempenha funções de coordenador de emissões.
Em 1968, portanto com apenas 22 anos de idade, Ernesto Likaunga começou a fumar. Segundo contou-nos, tudo começou numa simples imitação a amigos. Mas, o vício pegou e foram longos 34 anos consumindo dois maços de cigarros por dia.
No total
foram aproximadamente 24 820 maços de cigarros consumidos pelo Sr.
Likaunga.
Em 2002, Likaunga consegue finalmente livrar-se do consumo do
tabaco. O segredo e estratégia?
Fácil, conforme pode-se depreender na entrevista que a seguir apresentamos:
Como, afinal de contas entrou no vício do tabagismo?
Ernesto Likaunga: Primeiro, naquela altura (1968), fumar era um divertimento. Não tinha me apercebido dos reais malefícios do consumo do tabaco.
Mas, concretamente o que aconteceu. O que o levou a fumar?
Ernesto Likaunga: Bom foi o seguinte: em 1968 eu estava em Palma, na província de Cabo Delgado como professor. Então via os colegas a fumar e eu achava graça. Era um estilo na altura e quem quisesse entrar na moda tinha que fumar. Isso para as pessoas que se iludem e consequentemente acabam caindo no vício.
Estilo na sociedade no geral, na escola... onde e em relação a o quê concretamente ?
Ernesto Likaunga: Era um estilo, principalmente em relação à conquista de meninas. E tudo começou assim. A ideia que havia era que quem não fumasse não gozava da sua juventude.
Mas, ainda era psicológico. E o vício onde é que entra?
Ernesto Likaunga: Claro na altura não tinha vício. Primeiro, eu fumava uma série de marcas sem filtro entre as quais, Caravela, Havana...Acontece, porém, que em finais de 1968, eu fui transferido para a Ilha do Ibo. O ambiente já era outro, pois saí do campo para uma zona mais urbanizada. Eis que as menininhas da cidade gozavam comigo por estar a fumar cigarros sem filtro. Diziam que fumava cigarros sem cuecas. Acabei abandonando os cigarros sem filtro para os com filtro.
Nessa altura, (finais de 1968), o vício já me havia entrado. Então resumindo: Entrei por uma simples brincadeira, imitação e desejo de querer fazer parte da juventude. Tempo depois a preocupação era como conseguir adaptar-me a uma marca para me identificar e encontrar aquela que me caísse bem. Algo engraçado foi o facto de que sempre que ia fumando as diferentes marcas, essas se tornavam cada vez mais fracas. Então, a tendência era arranjar marcas mais pesadas que as que já havia provado.
O tempo foi passando e a vida era complicada...tinha que dar de comer a família, satisfazer o vício. Como geria isso?
Ernesto Likaunga: As desgraças foram várias. A partir do dinheiro que sempre era escasso e à essa escassez acrescentava-se uma grande despesa resultando da satisfação do meu vício em cigarros. O mais grave foi quando um dia, por pouco, eu ia morrer asfixiado ou carbonizado.
Estava para me deitar e tinha o meu cigarro na boca. Só que depois adormeci e o cigarro aceso caiu e o colchão pegou fogo. Mas, graças a Deus consegui acordar a tempo numa altura em que o colchão estava mesmo a arder.
Essa experiência foi marcante para abandonar o vício pelo cigarro...
Ernesto Likaunga: Sem dúvida. A partir daí tive que reflecti. Pensei e perguntei a mim mesmo a seguinte pergunta: mas, o que é que o cigarro me oferece de positivo? Consequentemente, tive uma noite marcante... de grande decisão.
Foi exactamente no dia 1 de Novembro de 2002, quando, deitado na cama examinando a minha saúde, apercebi-me de que ela (a saúde) não estava bem, tinha falta de dinheiro, já tinha queimado várias camisas e calças por causa das faíscas dos cigarros.
Lembro-me até de um super fato que eu tive que oferecer alguém porque havia queimado com o cigarro. Não conseguia apanhar sono e perante esta situação, disse para mim mesmo decididamente: Chega! Não posso mais fumar, pois é mais de um milhão de Meticais por mês que tenho que queimar em compra de cigarros. A minha saúde estava a deteriorar-se dia-após-dia.
Peguei no volume de cigarros que tinha. Abri, tirei um maço, entreguei os 9 maços restantes a minha esposa e disse-lhe: faça deles o que entender.
A estratégia
Disse a minha esposa que o maço que havia tirado devia colocá-lo na cabeceira do quarto à noite. Na hora do almoço devia deixar ao lado da minha cadeira. É que a tendência era de pegar no maço logo depois do almoço, bem como, na ida ao descanso nocturno. Então a ideia era de ver os cigarros, apreciar e dizer que não...não devo fumar. A ideia foi sempre de deixar o cigarro por não querer mais e não por falta. Então, durante um mês eu tinha que resistir ao ver o cigarro diante de mim todos os dias. Essa foi a primeira prova. A segunda prova era de conseguir estar a beber sem fumar. Então, a estratégia devia ser primeiro conseguir ficar sem fumar nas horas consideradas sagradas para o fumador.
Agora, o que pensa do Cigarro e das pessoas que fumam ?
Ernesto Likaunga: Olha eu agora dou ordens às pessoas que fumam para não fumarem dentro da minha casa porque o cheiro do cigarro tornou-se insuportável para mim. Sinto-me tão mal com o cheiro de cigarros que nem parece que fumava dois maços por dia. Sinto mau cheiro...mau cheiro que definitivamente não aguento com ele.
Em que situação o senhor fumava mais?
Ernesto Likaunga: Olha, há momentos sagrados para um fumador. Nomeadamente: depois das refeições, antes do banho matinal, quando estiver a beber uma bebida alcoólica e quando estiver para dormir.
Depois de conseguir deixar de fumar, continuou sentindo-se mal...
Ernesto Likaunga: Sim, eu continuei sentir-me mal. Tive que ir a consulta médica porque a tosse continuava a encomodar-me. Tinha muita dor e dificuldade na respiração. Foi então que a médica explicou-me que, a nicotina, que foi se acumulando nos pulmões, já não derretia, levaria muito tempo para derreter. Ela aconselhou-me a tomar sempre leite fresco para facilitar a limpar paulatinamente pulmões, o que tenho feito até hoje.
Mas, aceita que foi uma decisão penosa...
Ernesto Likaunga: Foi um pouco difícil, mas isso só foi nos primeiros dias. A minha experiência diz que basta a força de vontade. Cheguei a conclusão que não precisa de nenhum tratamento médico. O fumar ou o deixar de fumar é mais psicológico que outra coisa.
Qual é o apelo que deixa para os fumadores.
Ernesto Likaunga: Olha, tenho amigos que dizem que gostariam de deixar de fumar, mas não conseguem.
Tenho-lhes dito sempre que não há segredo nenhum. A única coisa que devem fazer é meter na cabeça, de uma vez por todas, que o cigarro não faz nenhuma falta. Tenho-lhes dito que o cigarro não presta.
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